Rosalind Franklin: "mãe do DNA", pioneira molecular nasceu há 93 anos
A vida da biofísica britânica Rosalind Franklin
foi repleta de controvérsias. Ela foi responsável por parte das
pesquisas e descobertas que levaram à compreensão da estrutura do ácido
desoxirribonucleico (DNA, na sigla em inglês). Essa história, porém, é
um conto de competição e intriga, descrito de uma maneira por James
Watson e Francis Crick - que elaboraram o modelo da dupla hélice para a
molécula de DNA - e outra por quem defende Franklin como pioneira
injustiçada na biologia molecular. James Watson, Francis Crick e Maurice
Wilkins receberam um prêmio Nobel por seus estudos em 1962: quatro anos
após a morte de Rosalind Franklin, aos 37 anos, vítima de câncer de
ovário. Sua contribuição não foi reconhecida na época.
Nascida em 25 de julho de 1920, Franklin se destacou nas
aulas de ciência desde criança, e estudou em uma das poucas escolas
para garotas em Londres que ensinavam física e química naquela época.
Aos 15 anos, ela decidiu se tornar cientista. Seu pai era contra o
ensino superior para mulheres, e queria que Rosalind prestasse serviço
social. Ele, no entanto, cedeu, e em 1938 a jovem se matriculou
no Newnham College, uma faculdade só para mulheres da Universidade de
Cambridge, onde se formou em 1941. No ano seguinte, passou a trabalhar
com pesquisa no Reino Unido, e promoveu pesquisas importantes sobre o
carbono e microestrutura de grafite. Foi essa a base para seu doutorado,
obtido em 1945.
Depois de sair de Cambridge, Rosalind Franklin passou
três anos em Paris, onde pesquisou sobre técnicas de difração
de raios-x. Em 1951, voltou à Inglaterra como pesquisadora no
laboratório do físico John Randall no King's College de Londres. Foi lá
que encontrou Maurice Wilkins. Eles lideravam por grupos de pesquisa e
mantinham projetos paralelos, ambos sobre o DNA. Quando Randall passou
a Rosalind a responsabilidade por seu projeto, ninguém trabalhava
naquela pesquisa havia meses. Wilkins estava fora do laboratório naquela
época, e quando voltou pensava que ela era apenas uma assistente
técnica, não uma colega - e principal pesquisadora do assunto no
laboratório.
As mulheres ainda eram desvalorizadas na academia nos
anos 1950. Apenas homens tinham permissão de utilizar os restaurantes da
universidade, e havia diversos estabelecimentos voltados apenas para um
sexo. Nesse contexto, o comportamento dos cientistas a respeito de
Franklin não era surpreendente. Mesmo assim, chama atenção o desprezo
apresentado por seus colegas de laboratório em cartas reveladas
recentemente. Em correspondência com seus colegas em Cambridge (Crick e
Watson), Wilkins chamava a jovem cientista de "bruxa".
Mesmo menosprezada, Rosalind persistiu em seu projeto de
DNA. Entre 1951 e 1953, ela chegou muito perto de descobrir a estrutura
do composto orgânico. Crick e Watson, porém, publicaram a solução
antes. Em 2010, foi comprovado que o pioneirismo dos cientistas foi, na
verdade, baseado nos estudos de Franklin, a "mãe do DNA". A britânica
fez os melhores registros fotográficos da estrutura até então, usando
técnicas de raios-x. Ela permaneceu nove meses com o material, porém não
identificou as hélices que, hoje se sabe, formam a estrutura helicoidal
do DNA: o modelo da dupla hélice, proposto por James Watson e Francis
Crick em 1953. O trabalho de Rosalind jamais foi mencionado pelos
autores do artigo, publicado na revista Nature. Rosalind Franklin morreu no anonimato.